ou porque você deve andar com um coringa na bolsa.
Toda mulher tem uma história de assédio para contar. Pergunte para suas amigas, irmãs, mãe, avós que você vai descobrir que isso é verdade.
Eu tenho várias. Já teve cara que achou que era uma boa ideia colocar o pinto para fora e bater uma punheta olhando para mim enquanto estávamos sozinhos no ponto de ônibus. Tiveram também dois caras que acharam bacana correr atrás de mim em uma rua escura de Piracicaba, para minha sorte eu corria mais rápido que eles.
Estou escrevendo esse texto para contar uma das minhas histórias de assédio. Talvez porque ela tenha sido a que mais tem valores simbólicos e mais mexeu comigo até hoje.
Confesso que o motivo de querer escrever é porque nos últimos meses ela fica pulando o tempo todo na minha cabeça como se quisesse ser contada. Quem sou eu para desobedecer essa intuição, não é mesmo? E aqui estou, resgatando uma história de 4 anos atrás.
Fora isso, acho importante nós mulheres compartilharmos esses relatos, até que ninguém mais ache que o movimento feminista “exagera” quando fala da cultura machista, misoginia e suas consequências.
Então, essa é uma das minhas histórias de assédio e ela está dividida em sete atos.
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Ato 1- O Coringa
Em 2009, eu me preparava para sair do Brasil pela primeira vez. Estava no aeroporto, muito nervosa para embarcar para Nova York e por lá ficar pelos próximos 9 meses. Recebi uma mensagem da Helena no meu celular perguntando se eu já tinha embarcado. Eu falei que não. Ela apareceu no aeroporto minutos antes de eu embarcar. Veio me desejar boa sorte e me entregou um coringa para eu levar.
Sim, um coringa. A carta de baralho mesmo. Ele ficou na minha carteira pelos próximos 3 anos.
Essa informação é importante.
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Ato 2- A escolha de morar com Rob
Eu morei em NY em 2009, em 2010 voltei para o Brasil e em 2011 retornei para os Estados Unidos mas dessa vez para morar em Ohio.
A vida em Ohio era um saco. Eu não gostava de quase nada por lá. Não gostava do meu trabalho, não gostava do clima, não gostava da comida, não gostava das pessoas com quem eu trabalhava. As únicas coisas que eu gostava eram o centro de meditação budista (onde aprendi a importância de ficar bem comigo mesma, independente da situação) e os poucos amigos que tinha por lá. Fiz alguns amigos brasileiros com quem mantenho contato até hoje e alguns amigos americanos também, o Rob era um desses amigos americanos.
Em Ohio eu aluguei um apartamento de dois quartos num vilarejo de estudantes, e como meu salário era pouco, decidi anunciar o segundo quarto para sublocação no Craigslist.
As entrevistas com as pessoas eram ao mesmo tempo divertidas e assustadoras. Eu queria alguém que fosse limpo, fácil de conviver e tivesse mente aberta. Acredite, esse terceiro requisito é bem difícil de encontrar em Ohio.
Na época eu namorava uma mulher de Nova York. Ela viria me visitar ao longo do ano e eu queria dividir apartamento com alguém que fosse “cool about it”, uma pessoa que não achasse que eu iria para o inferno por causa disso e que se fosse um homem, não achasse que por sermos lésbicas poderíamos fazer um ménage à trois com ele um dia.
O Rob parecia ser o cara perfeito. Ele era divertido e vinha do interior de Ohio, queria passar um ano sabático em Columbus. Tinha juntado uma grana para morar lá por um tempo, estava começando a namorar uma menina de Columbus e ainda por cima tinha móveis para preencher a sala!
A dinâmica da casa funcionava muito bem. Eu cozinhava, ele lavava a louça. A namorada dele visitava de vez em quando, a minha também. Eu achava estranho ele não fazer absolutamente nada o dia todo mas enfim, ele estava em um ano sabático.
Ele não trabalhava mas fingia para namorada dele que sim. Quando ela dormia em casa ele falava que tinha que sair cedo para o trabalho e ficava no McDonald’s com seu computador até a hora dela ir embora. Eu achava bem estranho, mas quem sou eu para meter o bedelho no relacionamento dos outros, não é mesmo?
Um dia a namorada dele veio em casa para cozinhar para gente. Foi um jantar muito agradável. Bebemos vinho e ficamos horas conversando na mesa. Até que eu tive a ideia de pegar um papel e sugeri que eles fizessem um desenho que meu professor de colegial fazia com a gente todos os anos.
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Ato 3- O desenho
A proposta do desenho era a seguinte: em uma folha de papel eles deveriam desenhar livremente uma casa, uma cerca, uma árvore e um sol.
As instruções são essas, ponto.
Segundo meu professor de desenho geométrico a forma como você desenha cada um desses elementos revela aspectos importantes da sua relação com você mesmo, sua família, seus problemas e seu pai.
Sei lá se isso faz mesmo sentido mas a verdade é que para minhas amigas do colegial aquilo funcionou muito bem. E parecia que para o Rob e para namorada dele também.
Só para você entender melhor: a cerca reflete a forma como você lida com seus problemas, a casa é sua relação com sua família, o sol sua relação com a figura paterna e a árvore é sua relação com você mesmo.
Desde que nasci sempre tive um espírito de independência muito forte (é sério, com 5 anos eu falava para minha mãe que queria morar fora), e coincidentemente sempre desenhei uma árvore enorme. Uma amiga minha que tinha muitos problemas com a família sempre desenhava uma cerca quase do tamanho da casa e bem em volta da casa. Nosso professor só nos contou o que cada um daqueles elementos significava depois de três anos seguidos coletando nossos desenhos, ou seja, a gente não sabia direito porque fazíamos aquilo, mas no final, pareceu fazer sentido.
O pai da namorada do Rob estava morrendo de câncer naquela época e ela desenhou um sol enorme chorando perto da casa. Rob vivia me dizendo que não era uma pessoa do bem e desenhou um árvore seca solitária no canto da página, sem nenhuma folha.
Quando eu contei para eles o que cada elemento significava os dois acharam que aquele exercício fazia muito sentido. Rob ficou bem impressionado na verdade. Ele não acreditava que a árvore dele estava sem folha alguma. Ele deixou o desenho dele pendurado por um imã na porta da geladeira.
Eu comecei a ficar curiosa com aquela história dele não se achar uma boa pessoa.
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Ato 4- A caixa preta
O tempo foi passando e Rob começou a ficar esquisito. Não sei bem explicar. Sabe quando você sente que a pessoa quer ficar o tempo todo perto de você?
Ele ficava me esperando chegar do trabalho para decidir o que iríamos fazer de noite. Nossa relação era boa, mas tinha dias que eu só queria chegar e ficar sozinha, fazendo minhas coisas. Não queria nem cozinhar para mim, quanto mais para nós dois. Ele era meu amigo, roommate, não queria ter nenhum compromisso com ele. Quando a gente saia ele queria ficar dançando comigo. Eu dava umas escapadas e ia dançar com a Renata, minha amiga.
Passaram algumas semanas e eu percebi que estava preferindo passar os fins de semana na casa da Renata ao invés de passar na minha, porque não queria ter que administrar a presença do Rob.
Percebi que alguma coisa não estava certa e que precisava conversar com ele.
Tivemos uma conversa franca e ele admitiu que tinha acabado tendo um “crush” por mim, mas que tudo ficaria bem. Ele gostava da namorada dele.
OK . Eu acreditei.
No fim de semana seguinte era feriado nos Estados Unidos e eu fui para Nova York visitar minha namorada. Um amigo meu brasileiro, o Flávio, ia passar a semana seguinte em casa com a gente, eu deixei as chaves com ele.
Estava em Nova York, um dia antes de voltar para casa quando o Flávio me ligou:
– Carol, tem alguma coisa muito estranha acontecendo aqui na sua casa.
Senti um gelo na espinha.
– O que aconteceu, Flávio?
– Não tem mais nenhum móvel na sua sala. O Rob foi embora e deixou um bilhete para você.
– O que está escrito no bilhete?
– Nossa, é um bilhete bem escroto, Carol…
– Pode ler…
– “Querida Carolina,
Desde a primeira vez que te vi tive vontade de enfiar minha língua entre suas pernas. Agora sei que isso não é mais uma possibilidade, por isso achei melhor ir embora. Tem um presente para você no seu quarto. Volto em breve para buscar minha cama.
Rob”
– Nossa Flávio, que bizarro. Como eu pude acreditar nesse cara? O que é o presente que ele deixou para mim?
– Carol, é mais bizarro ainda. Tem uma caixa preta em cima da sua cama…
– Uma caixa preta??! Mas o que é que tem dentro?
– Então, tem um gel lubrificante usado, uma camisinha, um cachimbo e duas cartas de baralho.
– Que cartas?
No baralho do Rob, só existiam reis e rainhas.
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Ato 5- O spray de pimenta
O que era aquilo? Uma mensagem?
Esse era o cara que tinha a chave da minha casa, que sabia como era toda a minha rotina, um cara que eu não sabia nada a respeito mesmo ele tendo convivido comigo por alguns meses. Na verdade, a única coisa que eu sabia é que ele tinha uma arma. Ele me contou isso em um dia que estávamos discutindo sobre pena de morte e eu falei para ele que não mataria uma pessoa mesmo que essa pessoa tivesse matado alguém que eu amo muito. Ele não conseguia encontrar sentido no que eu dizia, ele falou que mataria sem pensar duas vezes.
Levei a caixa preta para meu trabalho. Queria que meu chefe soubesse que aquilo estava acontecendo. Eu e o Flávio estávamos morrendo de medo do que o Rob podia fazer. E se algo acontecesse alguém precisava saber o que estava acontecendo, de preferência um americano.
Pensei trocentas vezes em voltar para o Brasil. Porque eu estava ali afinal? Imagina se esse cara fizesse alguma coisa comigo? Mas eu queria honrar meu compromisso do contrato de ficar pelo menos um ano trabalhando na The Ohio State University. Eu e minha cabeça dura.
Mostrei a caixa preta para meu chefe. Ele era o tipo de cara que matava ursos nas férias, falava que tudo era culpa do Obama, tomava 6 latas de Cherry Coke por dia e vivia indo no médico para entender o que estava acontecendo com seus ossos e ainda por cima tinha um adesivo de uma arma na porta do seu escritório que dizia “essa pessoa está armada e pronta para defender a vida”
Dá para ter uma ideia de com quem eu estava lidando né?
Depois de eu contar toda história ele fez uma careta, como se aquilo não fosse algo tão grave, afinal, nada tinha acontecido. Pegou uma coisa dentro da gaveta dele para me entregar.
Era um spray de pimenta.
Ele disse que se eu encontrasse o Rob por aí poderia usar o spray para me defender.
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Ato 6- As mulheres não são loucas
Troquei as chaves da porta, e nunca mais andei pela minha vizinhança escutando música.
Uma semana depois o pai da namorada do Rob morreu e o Rob apareceu na cidade.
Ele me ligou todo empolgado dizendo que estava na cidade, perguntando como eu estava. Disse que estava muito cansado do velório e que estava pensando em passar em casa para tomar um banho e dormir lá.
Assim, como-se-nada-tivesse-acontecido!!
Eu fiquei espantada com aquilo. Era muita falta de discernimento para um ser humano só.
Disse que se ele aparecesse na minha frente eu chamaria a polícia e que meu chefe já sabia da história da caixa. Também disse que ele só poderia buscar a cama em um momento que eu estivesse na casa e acompanhada de alguém.
Ele começou a gritar falando que eu era louca, que tudo aquilo não passava de uma brincadeira (!!).
Falei que então aquela era uma brincadeira de péssimo gosto e que ele escolheu a pessoa errada para brincar.
Ele desligou o telefone puto. Flávio e eu ficamos morrendo de medo em casa.
Como eu queria que todas as mulheres do mundo soubessem que elas não são loucas.
Mas o Rob nunca mais apareceu.
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Ato 7- A primavera chegará
Fiquei muito triste com essa história, mas aos poucos, com o distanciamento do Rob, comecei a me sentir mais segura. Queria acreditar que ele tinha se tocado da bizarrice que fez. E queria também que ele viesse logo tirar a cama dele de lá. Afinal, ele também tinha ferrado comigo financeiramente e eu precisava alugar o quarto para outra pessoa.
Fora a cama tinha outra coisa que o Rob tinha deixado para trás: o desenho da árvore seca na geladeira.
Lembrei das cartas do rei e da rainha que ele tinha me deixado. Fiquei com dó. No baralho dele só existem reis e rainhas. Lembrei do coringa que sempre carreguei na bolsa. Até o meu baralho era mais complexo que o baralho do Rob. Como é bom andar com um coringa por aí.
Pequena pausa: Helena, sei que já te agradeci trocentas vezes, mas quero agradecer de novo. Só uma pessoa com uma alma como a sua sai correndo de São Paulo para entregar um coringa para uma amiga em Guarulhos.
Tirei a árvore seca do Rob da geladeira e coloquei na mesa. Desenhei uma porção de folhas nela.
…Essa minha esperança que insiste em me acompanhar…
Escrevi em inglês ao lado da árvore uma frase da Cecília Meirelles que lembro todos os anos com a chegada da primavera:
“A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la”.
Dobrei a folha com o desenho e coloquei o coringa dentro dela.
Ele veio buscar a cama junto com o irmão dele. Assim que eu entrei na casa ele ficou me caçoando por eu ter trocado as chaves da porta, meu amigo inglês de 2 metros de altura entrou logo em seguida, assim que ele o viu calou a boca e tirou a cama em silêncio com o irmão.
Não sei se ele algum dia achou o bilhete.
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Relatar essa história me exigiu uma certa dose de coragem, pense com carinho antes de comentar qualquer coisa, por favor.
E se você acha que nada demais aconteceu comigo, não comente e siga pensando.
Obrigada por compartilhar a sua história, Carol. Sei que é doloroso mas é importante dividir histórias como essa para sociedade abrir os olhos pra algo escroto que ainda acontece nos dias de hoje. Maaas, na real, o que me deixou passada feat morrida foi você ter desenhado folhas em uma árvore seca e dividir uma frase linda da Cecília Meirelles. Como é bom saber que existem pessoas que, mesmo em tempos escuros, ainda enxergam luz em tudo. Obrigada de <3
Oi Carol… não sei o que sinto ao ler sua história. Nojo? Medo? E sei lá porque… solidão.
Eu, uma pessoa que já passou inúmeros apuros desde os 10 anos de idade, quando leio histórias sobre assedio me vejo nelas e me revolto com elas e com a população e com os homens… dizer que nós merecemos respeitos é tão bizarro quanto dizer que negros são gente. Não sei o que dizer…
Caramba Carol…to até agora com a boca aberta aqui!!!
que história punk minha amiga.
Mas quanto mais te conheço mais te admiro.
Carol você tem uma alma tão linda que acho que se alimenta só de flores……hehe
LoveU.<3
Lisandra.
Nossa Carol, que bizarro! Sorte não ter acontecido algo pior… fiquei bem comovida.
É fato, toda mulher tem uma história de assédio pra contar, infelizmente. Parabéns pela coragem de compartilhar. É importante para encorajar outras mulheres a contarem suas histórias e fazer com que as pessoas se conscientizem do tamanho da gravidade desse problema na sociedade e tomem atitudes para combater esse mal, como por exemplo educarem as crianças para serem adultos mais respeitosos, humanizados e empáticos com as mulheres. Gratidão!
Carol, aconteceu muita coisa com vc, sim. Felizmente, vc ouviu sua intuição. E mais: avaliou os fatos concretos de uma personalidade psicopata. Talvez, nada de fato acontecesse. Talvez. Sua história é rica. E mostrar ela abertamente demonstra sua coragem. Parabéns.
Carol, o que mais me chocou no seu relato foi que ele não me surpreendeu. Ele não me surpreendeu, não por ter sido algo leve e corriqueiro e sim por ser algo muito comum. Só que comum é diferente de normal, né? Não podemos mais aceitar esses abusos como coisas normais. Não é normal e não é aceitável! Parabéns pela sua coragem. Um abraço!
Que história, que coragem!
Você é foda, Carol.
Beijão.
Obrigado por compartilhar.
Obrigada por compartilhar!
Carol, muito importante compartilhar. Acho que o maior regulador dos hormônios masculinos seja a empatia. Só que precisamos enxergar o outro como um legítimo outro igual a mim. Esta prepotência precisa acabar. Achar que pode falar bobagem, que intimida com a força física, precisa terminar. Isto só vira com o despertar da empatia. Seu relato contribui para isto. Que está mancha em seu coração possa ir embora. Que esta dor possa ser curada. Um beijo no coração..
Muito amor por você! E adorei você ainda ter desenhado folhas na árvore seca e deixado uma linda mensagem pra ele. Você é mil, menina <3
Oi, Carol! Você foi muito corajosa ao descrever esse relato. Que essa sua coragem possa ‘contaminar’ todas as pessoas que passarem pelo seu caminho de maneira que agregue positivamente. Na verdade, não há outra opção a não ser acrescentar com esse depoimento.
Muita coisa aconteceu com você! Muita coisa você disse através da sua atitude admirável com o desenho e o coringa!
Um beijo! Deus esteja sempre com você..
Que relato corajoso Carol!
Você é demais!
Carolzinha linda, vc está muito longe de ser louca! E esse seu grande coração, que insiste em ver o melhor nos outros, foi quem te orientou, te avisou e te protegeu! Agradeço muito a imensa coragem de revelar essa história para nós. Se ele não se considerava (ou não queria ser) uma boa pessoa, vc viu o melhor dele, e ainda acreditou que ele poderia sim escrever outra história para si. Tb acredito firmemente na possibilidade de transformação e renovação do ser humano. Beijos. Te amo!
Que coisa, Carol!! Eu fiquei só pensando nas estórias do seriado do Dexter. Eu to sempre falando de ir embora para os EUA (já que o Marcelo, e nossos filhotes, são americanos), mas o Marcelo sempre fala dos comportamentos esquisitos que já viu por lá. Claro, que isso não quer dizer que aqui não tenha esse tipo de comportamento. Aqui eles são ainda mais abusivos. Nós mulheres sentimos na pele.
Obrigada Carol por dividir conosco sua experiência. Vc nos serve de inspiração, sendo sempre tão positiva. Bjo
Eu poderia escrever aquele textão, mas quero resumir e dizer de coração que além de não estar sozinha, inclusive nos seus receios, sinta-se, por favor, abraçada por uma estranha que entende esse sentimento que você sente!
Carol, achei você muito corajosa por compartilhar sua história de assédio. Essas histórias acontecem todo dia, de forma velada ou escancarada, não dá pra aceitar. Hoje de manhã um advogado passou a mão na minha bunda dentro do fórum trabalhista. Ele usou o fato do elevador estar muito cheio e de se movimentar para pegar seu celular e ‘atender uma ligação’. Fiquei com muito raiva principalmente por não ter reagido. Só me movimentei bruscamente para demonstrar minha rejeição pelo gesto, mas nem olhar pro rosto dele eu consegui. Essas histórias incomodam e por isso mesmo devem ser expostas.
Carambaa, que história Carol. Confesso que fiquei com um nó na garganta ao ler. Quanta coragem, tanto durante o ocorrido, quanto agora ao compartilhar. Parabéns. Fico feliz que “de certa forma” terminou tudo bem. Desejo que você consiga se curar deste trauma, afinal você tem um grande coração, no qual não merece carregar algo tão pesado. Amor, Paz e Harmonia hoje e Sempree.!
Carol, muito obrigada por compartilhar está história tão forte! É um verdadeiro ato de coragem, Resiliência e vulnerabilidade.
Compartilhar está história com o mundo também nos permite contar a nossa história também.
Já sofri dois assédios, que foram cometidos por um chefe e pelo marido da empregada que trabalhava na minha casa.
É incrível como colocamos estas histórias debaixo do tapete e não sei se por defesa não damos a devida importância para ela. Nossa, a sua história me cutucou lá no fundo e percebi que ainda tenho que purificar estas memórias e sentimentos em mim. Com certeza estás lembranças estão registradas e influenciam os meus pensamentos sobre os homens hoje, incluindo o meu marido!
Putz, ainda tem muita raiva a ser transmutada por estes homens que ainda não se permitiram reconhecer a grandeza das mulheres.
Gracias querida Carol, seu texto foi libertador.
Ola, não sei se é porque o tema está em pauta, mas resolvi ler a sua história. Acho que o problema das pessoas, além de dificilmente verem alguns atos como assédio (no seu caso foi explicito, mas alguns não são tanto…) acharem que por eles não serem assim tão graves, estão ok.
Achei estranho o seu chefe achar tudo não tão grave, porque sei de muitos lugares nos EUA que eles tem um puta medo disso, porque tudo aí é processo né… e parece que se ganham até muitos!
Eu sei que é difícil ver o lado bom das coisas em (muitos) momentos, mas…
E outra, ainda bem que você respondeu como respondeu… nunca se sabe o quanto nossas folhas mudam o jardim dos outros…
muito obrigada Carol por partilhar conosco de um momento tão sério, constrangedor, vc agiu com prudência e sabedoria… parabéns pela coragem!
Eu fiquei apavorada imaginando o que vc passou: “o cara que tinha a chave da minha casa, que sabia como era toda a minha rotina, um cara que eu não sabia nada a respeito mesmo ele tendo convivido comigo por alguns meses. Na verdade, a única coisa que eu sabia é que ele tinha uma arma”… tempo de muito medo e angústia… mas ainda bem que passou e que vc teve um livramento de algo pior… Na verdade creio que nada acontece por acaso, creio que acima de tudo existe algo maior, um propósito, pois depois ao empatizar e refletir sobre essa situação, dá para perceber claramente a proteção de UM-SER-SUPERIOR (que chamo de Jesus) na sua vida… que enviou um “anjo” para estar com você, e o Flávio foi um grande amigo nesta hora!
Carol, siga esta sua intuição (GPS) e continue fazendo o que vc está fazendo, vc está ajudando muita gente, que sua luz brilhe mais e mais, sucesso sempre.
Oi, Carol.
“Até o meu baralho era mais complexo que o baralho do Rob. Como é bom andar com um coringa por aí.”
Minha interpretação dessa sua frase é de que você reconheceu que tinha mais “recursos emocionais” que ele e acredito que por isso você conseguiu se compadecer, escrever o bilhete e dar a ele o SEU coringa. Essa sua atitude me emocionou muito. Eu já sofri muitas situações de assédio, inclusive por parte de um amigo que eu jamais esperava. E confesso que sinto muita dificuldade de me compadecer dessas pessoas. Sinto dificuldade de me compadecer dos homens porque, para mim, eles são agressores em potencial. Meu pai é um homem muito agressivo. Tenho tentado mudar essa visão porque, racionalmente, eu sei que nem todo homem é agressor, mas emocionalmente, ainda não consegui me convencer. Meu último namoro foi um relacionamento abusivo e já pensei muito acerca de como eu coloquei meu ex-namorado nessa posição de abusador. E até que ponto ele é mesmo um homem abusivo. Ontem reparei num rapaz que malha na mesma academia que eu, geralmente no mesmo horário. Ele é jovem, mas como tem uma barba preta e comprida, acaba parecendo mais velho. Eu detesto essas barbas. A aparência dele não me agrada e sinto um pouco de repulsa. Num dado momento, nos cruzamos num corredor e reparei que a perna esquerda dele é um pouco torta e menor que a direita e por isso, ele anda com uma certa dificuldade. Não é algo tão aparente, por isso, eu nunca percebi. Ele me olhou sem graça, parecendo que tinha percebido o que eu tinha percebido. Senti pena e, ao mesmo tempo, pensei “essa é a fragilidade dele, talvez por isso ele malhe tanto”. Nos encontramos no estacionamento mais tarde, já saindo da academia. Ele me disse “boa noite” e respondi. A repulsa que antes sentia pareceu até diminuir. Vou ficar atenta da próxima vez que encontrar com ele. Lembrei desse rapaz depois que li sua história e percebi que eu gostaria de agir da mesma forma que você e não sentir raiva, nem querer “dar o troco”. Mas não sei se sou capaz. Porém, o olhar sem graça do rapaz da academia me tocou de um jeito diferente. Talvez como eu esteja pensando muito em como não agir de uma forma simplesmente reativa a uma palavra ou atitude machista ou a uma situação de assédio, sua história tenha me emocionado tanto e o olhar do rapaz da academia tenha me sensibilizado. Não sei… Fiquei pensando… entrar em contato com nossa própria fragilidade e com a do outro talvez seja o caminho para atos de empatia como o que você teve como Rob que não soube reagir de uma forma equilibrada a uma rejeição. Seu texto, além de me emocionar, me trouxe várias reflexões, inclusive por causa dos desenhos da casa, da árvore, da cerca e sol. Vou fazer os meus. Obrigada por compartilhar sua história.
Carol, cê é de Piracicaba?
Beijão e muito feliz por você ter tido coragem de escrever este texto lindo!
<3
Olá Carol, já cheguei a ouvir sim sobre “ser exagerada” da minha própria mãe! Sei que não é o foco do seu texto, mas lendo ele veio na minha mente que quando o assunto é assédio, muitas pessoas ficam tão desconfortáveis que preferem ignorar ou diminuir a situação (especialmente as mulheres né?). Penso nisso para perdoar minha mãe. Você foi muito corajosa ao relatar esses casos que aconteceram com você. Com certeza não é exagero. Espero que ter escrito tenha te ajudado muito! Obrigada