Acho que a vida seria tão mais leve sem os feedbacks não solicitados.
Sabe quando você está junto de alguém em uma viagem, ou mesmo dentro de casa, e o tempo todo uma pessoa (ou vocês dois) ficam comentando a maneira do outro de fazer as coisas?
“nossa, mas você vai vestir essa roupa?”, “sério que você lava a louça assim? !”, “porque você não cozinhou primeiro antes de fritar?”
Já reparou como tem gente que fica grande parte do tempo “presa” nesses detalhes?
Em muitos casos, essas são críticas disfarçadas de “comentários”. E a longo prazo, elas vão devagarinho envenenando a relação.
O que mais me deixa encucada nisso é que muitos desses comentários são absolutamente desnecessários.
Quando estou ao lado de alguém que fica o tempo todo comentando minha maneira de fazer as coisas, sempre tenho vontade de cantar aquela música da Alanis “enough about me, let’s talk about you for a minute. Enough about you, let’s talk about life for a while”.
Sabe? Discutir umas ideias, falar de algo extranós, deixar a vontade de controlar o outro no stand-by um pouco.
Andei reparando que as pessoas mais leves de se conviver são as que dão esse espaço para os outros agirem do jeito deles. Meu pai é mestre nisso, e é a pessoa com quem mais aprendo através do silêncio.
Mas, ao contrário do que possa parecer, não acho que devemos abolir os feedbacks não solicitados. Existem algumas situações nas quais eles são oportunos (essas foram só algumas que pensei, devem ter outras mais):
Quando o que o outro está fazendo te traz algum tipo de risco ou mal estar- por exemplo, você está comentando o jeito da pessoa dirigir porque aquilo está te fazendo se sentir insegura como passageira.
Quando o que o outro está fazendo traz algum tipo de risco ou mal estar para ele- “você já decidiu fazer isso algumas outras vezes e em todas você se machucou, eu me importo com você e tô aqui para te perguntar: tem certeza que vai querer tentar isso de novo?”
Quando você ainda está conhecendo alguém e não tem assunto com ela – “nossa, que jeito diferente de escorrer o macarrão”, “poxa, sério? Eu sempre fiz assim, aprendi com a minha avó que cozinhava para gente todo domingo etc etc” e assim vocês acabam abrindo espaço para descobrirem histórias uma do outra.
Do mais, você pode ter certeza: pelo bem ou pelo mal está todo mundo aprendendo com os próprios erros. Quanto menos “comentários” e mais espaço, menos vergonha envolvida. E quanto menos vergonha, mais fácil para gente mudar de postura.
Muitas vezes esses comentários se tornam profecias autorrealizáveis, quanto mais você força dizendo que a pessoa é “assim ou assado” mais ela vai endurecendo naquilo, assumindo mesmo aquele papel. E o doido é que, com outras pessoas, ela pode ter uma atitude absolutamente diferente, pois o que os outros refletem para ela, sobre ela, é diferente do que você reflete.
Existem milhares de formas de viver e de fazer as coisas. Nós sempre acabamos achando que a nossa é a certa, mas não é!
A não ser que estejamos falando de atitudes que tocam nossos códigos morais e éticos e que ,portanto, devem sim ter algumas regras e acordos de comportamento estabelecidos, todos os outros comportamentos “inofensivos” merecem ter espaço para uma pitada de criatividade.
Por mais que seu jeito de dirigir, lavar roupas, cozinhar, cortar as unhas dos pés, planejar viagens e secar o corpo depois do banho seja incrível, têm um montão que já inventou de fazer diferente.
Recomendo substituir o impulso da crítica por uma curiosidade genuína pelos outros.
ps* mas Carol, esse não é também só o seu jeito de ver as coisas?
Sim, e é só a minha preferência, não é o certo.