Numa sociedade que preza pela simpatia artificial, poucos sabem na prática o que é empatia.
Alguém que está sofrendo com uma enfermidade não necessita de selfies ou frases feitas, mas de empatia e compreensão. Necessita de alguém que esteja ali caso ela queira se abrir para compartilhar seus medos, angústias ou esperanças. Alguém que entendendo a situação de quem está doente e da família possa agir a moda de tornar a vida deles melhor nesse momento.
Eu sempre tive dificuldades sobre como lidar e o que conversar com quem está doente. A simples frase que utilizamos em quase todas as nossas conversas como “oi, tudo bem com você?” parece que fica vazia de sentido quando você vai cumprimentar alguém que mal está conseguindo se mexer na cama de hospital.
Nas minhas pesquisas online encontrei alguns artigos e projetos que podem trazer alguma luz para quem está perdido em um momento como esse. No último ano meu padrinho enfrentou um câncer de fígado e nossas conversas no hospital também me inspiraram a escrever. Espero que as informações que vou sintetizar aqui te ajudem a se tornar um companhia mais agradável para alguém que esteja enfermo.
Pesquisando online, encontrei o projeto de uma artista chamada Emily McDowell, que logo depois de se curar do câncer criou uma série de “cartões da empatia” com as mensagens que ela desejava ter recebido enquanto fazia seu tratamento.
Para ela, pior que os dolorosos tratamentos eram as mensagens de condolências que recebia dos parentes e amigos. Ela então criou cartões com mensagens que os pacientes verdadeiramente gostariam de escutar, veja alguns deles:
“Deixe me ser o primeiro a dar um soco na próxima pessoa que disser para você que tudo acontece por alguma razão. Sinto muito por você estar passando por isso”
“Eu queria conseguir retirar sua dor, ou pelo menos retirar as pessoas que comparam isso com a vez que o hamster delas morreu”
“Bem, isso simplesmente é um saco. Eu gostaria de saber uma melhor forma de dizer isso, mas meu cérebro está confuso agora. Mas só queria que você soubesse que mesmo que eu nem sempre tenha as melhores palavras você sempre me terá ao seu lado. Eu não vou para lugar algum, espero que você esteja ok com isso”
“Desculpe eu não ter estado em contato. Eu não sabia o que dizer”
Para ver todos os cartões acesse o site da artista.
Lendo esse cartões percebi que melhor do que dizer mensagens positivas, compartilhar uma cura mágica ou tentar educar a pessoa sobre como ela deve treinar seu mindset para lidar com a doença é demonstrar que você está do lado dela ou da família dela para o que for preciso. Em suma é substituir o clichê “Você vai melhorar!” pela afirmação “Estou com você(s)!”.
A família que está passando por esses momentos precisa de ajuda com tudo: desde caronas para fazer o tratamento até de alguém para cuidar das crianças, limpar a casa ou fazer as compras. Deixá-las a vontade para solicitar sua ajuda é um baita sinal de que você está ao lado deles.
Mas talvez você também não tenha essa disponibilidade de mudar sua rotina para ajudá-los. Não tem problema! Mesmo só podendo fazer uma visita no hospital ainda tem jeito de demonstrar isso. Como por exemplo, você pode perguntar ao acompanhante se ele não quer aproveitar o tempo que você está lá para sair, dar uma volta, tomar um café fora do hospital. Pode perguntar se eles não precisam que você vá comprar algo para eles do lado de fora.
Meu tio enquanto esteve internado depois do transplante de fígado sentia dor e coceira nas costas por ficar tanto tempo deitado. Eu o ajudava coçando de levinho suas costas para que aquela sensação aliviasse um pouquinho.
Desse pequeno ato, nossas conversas fluiam, e ele ia me contando histórias de seus amigos, falava sobre como estava andando o tratamento, sobre sua fé e entre um cafuné e outro chegou até a me confessar que era muito sentido comigo porque eu nunca ligava para ele em seu aniversário! :O (mas isso nunca mais vai acontecer porque depois desse “pito” marquei a data na agenda para sempre!).
Então para você que vive se perguntando sobre como lidar com essa situação, seguem algumas dicas:
- Se você for íntimo da pessoa e souber que é uma pessoa que gosta de carinho, faça carinho nela tomando cuidado em estar com as mãos limpíssimas e longe de cicatrizes ou feridas.
- Lembre a pessoa do quanto ela é amada, fale dos amigos e parentes que estão com saudades e desejando que a pessoa retorne ao círculo social.
- Se a pessoa não é de rezar e não acredita em Deus, não force a barra! Não tem porque falar de Deus e orações para alguém que não acredita nele. Estar doente já é chato o suficiente, ninguém precisa ser evangelizado nesse momento. Acredite, você se tornará um visitante bem inconveniente se fizer isso.
- Se você conhece bem a fé da pessoa e sabe que ela ficará feliz em receber orações aí sim você pode rezar e deixá-la saber que você está fazendo isso por ela.
- Lembre a pessoa do quanto ela é forte. Tratamentos hospitalares deixam o corpo de qualquer um abatido. Se a pessoa estiver de fato reagindo bem ao tratamento diga isso para ela, enfatize o quanto ela está sendo forte e reagindo bem.
- Pergunte para pessoa sobre o que ela quer conversar. Talvez ela esteja com muita vontade de compartilhar sobre as dores que está sentindo ou sobre o que está acontecendo com o tratamento e rotina do hospital, mas talvez ela já esteja super saturada disso e queira falar sobre a alta do dólar, por exemplo. A pessoa não deixou de ser ela mesma só porque está doente então não tem porque, de uma hora para outra, só conversar sobre a doença dela.
- A pessoa tem o direito, não o dever, se conversar sobre sua doença. Talvez pessoas que estejam em estado terminal tenham vontade de se abrir e falar sobre medos, arrependimentos, últimos desejos, etc. Mas ela não é obrigada a fazê-lo. Portanto, novamente, não force a barra! Simplesmente diga, “se você quiser conversar eu estou aqui para escutar” e se por um acaso ela começar mesmo a falar, não interrompa, não dê conselhos, não encerre o assunto. Por exemplo, se a pessoa disser “eu queria ter passado mais tempo com meus filhos” não corte a pessoa imediatamente dizendo “imagina, isso é bobeira, você foi um bom pai”. Deixe-o elaborar o que precisa nesse momento de reflexão, esteja simplesmente presente.
Do mais, não se culpe, nem crie altas expectativas sobre você mesmo. Ainda somos todos aprendizes nesse tipo de situação. Coloque no seu coração a intenção de fazer a pessoa se sentir um pouquinho melhor do que antes de te encontrar. Você não precisa levar nada, nenhum discurso pronto, só a vontade de estar ali, para criar um campo de compartilhamento e carinho entre vocês.
#EspalheEmpatia
E você? Já tentou transmitir empatia a alguém que estava doente? Como foi esta experiência? Na sua opinião, qual é a parte mais difícil desta “construção”?
Oi Carol, meu pai teve gravemente doente ano passado, dias antes do lançamento do meu livro. Por coincidência eu tava relendo Por um fio, do Drauzio Varela e junto c ele Mortality, do Dickson. O tema da morte estava em mim e nesses dois livros eles falavam disso, do que o paciente terminal tinha que ouvir das pessoas ao redor…do quanto nao sabemos transmitir empatia. Voei para o brasil p passar sete dias no hospital c o pai, aprendemos muito sobre a vida e a gratidao nesse periodo. Ele se recuperou. E meus olhos enfim se abriram pra esse tema. Excelente teu texto. Me fez lembrar do como precisei de empatia quando tive bebe sozinha aqui em toronto…e so ouvia coisas como: vai passar. A ajuda as vezes é bem-vinda em açao mais do que em palavras. Um beijao imenso pra tia, guria de ouro!
Lindo minha linda! I love you!
Ótimo post, realmente muito bom. Todo mundo que trabalhar com marketing digital deveria ler esse post.