Aprendendo a jogar o jogo com Picasso

Esse artigo fala um pouco do que eu sei da vida de Picasso.
Não o leve tão à sério, é uma visão poética do que interpretei da vida dele…
Mas visões poéticas também podem ajudar.

 

Com 9 anos de idade Picasso pintou seu primeiro quadro:

picasso 0.1

O pai dele, que também era pintor, ficou impressionado e quase desistiu de pintar. Dizem que ele ficou acanhado diante do talento do filho… não sei se é verdade.

Picasso seguiu seu rumo. Não se encaixava em escola nenhuma. Se auto-educou em sua arte e começou a mostrar pro mundo o que sabia fazer. No início de sua vida como “pintor profissional”, se é que isso existe, os quadros de Picasso eram assim:

picasso 2 picasso 1

Poxa, bonitos, né?

São praticamente retratos, cheios de detalhes, realistas.
Mas sabe de uma coisa? Era assim que todo mundo estava pintando naquela época. Picasso entrou na roda, aprendeu a jogar o jogo. Mostrou para o outros pintores que ele também sabia fazer aquilo. Ganhou atenção.

A partir daí, foi mudando.
Teve a fase azul e a fase rosa.

Até meter o pé na porta e inaugurar o Cubismo:

picasso novo 2 picasso novo 1

picasso3 S_Chorando_jpg moca com bandolin

Nossa, não dá em você também uma reação completamente diferente?

Depois de ter entrado no jogo, Picasso pôde detonar o jogo.
Não que eu ache que ele soubesse desde o início que queria ser um cubista, isso certamente surgiu junto de seu desenvolvimento natural como pintor.
Mas ele inaugurou uma nova era na pintura quando pôde inaugurar uma nova era na pintura, entende?
Não sei como seria se seus primeiros quadros fossem esses, “todos desfigurados” os realistas diriam.
Mas quando aconteceu ele já tinha atenção suficiente para poder fazer isso.
E arrasou, como todos sabem.

Chegou ao ponto de pintar Guernica:
guernica

 

Esse painel retrata um bombardeio da cidade espanhola de Guernica pelas forças nazistas. Na época, um militar alemão o indagou sobre o quadro:
– quem fez isso foi você?
E Picasso respondeu:
– não, foram vocês.

Ouch! Não tinha mais volta pra esse homi, gente. Ele virou ele mesmo, no duro.

Tá, mas e aí? O que eu quero dizer com tudo isso?

Eu vejo muita gente travada em relação ao mundo. Em relação ao jeito do mundo ser. Gente que não se adapta ao jogo, que não consegue. E que se sente muito triste por isso, pois lá dentro de suas almas gostariam de mudar o jogo todo, implodir, sair dele pulando, pelado e com uma bandeira para alertar todas as outras pessoas do que está acontecendo.

Eu também quero isso, e acho que Picasso também queria.

Eu também enxergo toda essa coisa de ter que trabalhar, ganhar dinheiro, fazer networking, “ser alguém” como uma grande ilusão. Aliás, ouso dizer que essa foi nossa maior invenção como espécie: esse jogo.
Nossos corpos e almas não estão adaptados ainda pra isso, por isso, sofremos.

Nós sabemos que essa não é a verdade da vida, que esse jogo são os “outros planos” como diz John Lennon na frase:
“a vida acontece enquanto você faz outros planos”

Acho que quem sofre por ter que se adaptar a esse mundo, sofre porque sabe lá na essência o que o Lennon quis dizer com essa frase.

Mas o que quero dizer com tudo isso é que existem diferentes formas de se olhar pra esse jogo inventado:

a gente pode se sufocar, se rebelar, não acreditar que teremos que nos adaptar…

ou

a gente pode olhar e pensar: é só um jogo, quais são as regras? Me dá aqui o peão vermelho que eu vou zerar essa merda.

e pintar alguns quadros realistas por aí.
Não que aprender as regras seja algo fácil. Isso exige muito mesmo. Temos que ser bons fingidores. Mas podemos aprender com leveza.

Até a galera saber que a gente pinta.

E assim que for possível,

meter o pé na porta.

Essa loucura toda certamente vai nos ajudar a descobrir mais de quem somos, pra nunca mais deixarmos de ser isso.

O mundo precisa de mais jogadores que sabem que tudo isso não passa de um jogo inventado. Gente que não se impressiona tanto com ele.
Se você entendeu esse texto, você é um deles.

por Carolina Nalon

Olá! Meu nome é Carolina Nalon e sou uma eterna inquieta que acredita que o mundo precisa de mais autenticidade e empatia. Espero que você encontre muita inspiração nas linhas e vídeos do meu blog. Se quiser saber mais sobre o que eu faço, visite a aba "projetos" desse site ou acesse: tiecoaching.com.br

13 thoughts on “Aprendendo a jogar o jogo com Picasso

  1. Ivany Mamede Lima says:

    Carolina, que bom ler algo como este artigo. Eu entendi o artigo e sou uma jogadora que entendi esse jogo quando eu tinha 10 anos, hoje acabei de fazer 60 anos ( ontem) e minha alegria e saber que uma jovem como vc já tem esta percepção. Eu fico muito feliz com isso!

  2. Gislaine Faria says:

    Eu tenho sérios problemas em saber quem eu sou, desde sempre! A terapia já rola há mais tempo que consigo me lembrar… Acho muito difícil a gente virar o jogo quando não consegue nem sequer saber de que lado está ou como é o lado que a gente está. Então lá no fundo, a gente vai se acostumando e empurrando com a barriga e depois de um tempo já nem sabe mais de onde vem a tristeza que a gente sente ou percebe o descontentamento que a gente efetivamente sente em relação à ilusão da vida…

  3. Rô Rezende says:

    MORRI com esse texto. (morri mesmo, acabei de parir, to morrendo e renascendo várias vezes por dia huashua)
    Me identifiquei demais e sabe quando algo se ilumina dentro da gente? GRATIDÃO, Carol.

  4. eliana rigol says:

    Carol, maravilhosa forma de comunicar tu tem. Que força, guria querida. Obrigada.
    Lembrei das minhas sessões de terapia em Porto Alegre…estava na época lendo um livro O Dia do Coringa, do mesmo cara que escreveu o Mundo de Sofia. Ele conta a história de cartas marcadas, como se o mundo (numa ilha) fosse vivido por aquelas cartas do baralho, todas e cada uma sabiam bem o que deviam fazer isoladamente, mas só o Coringa entendia quem havia dado vida àquelas cartas.
    Ali que pensei: tem gente que tem olhar de Coringa. E tu é uma coringa que sabe contar bem de leve a história que precisamos sempre ouvir.
    Um beijo,
    Eliana Rigol

  5. Carol says:

    Oi Carol, também senti como se alguém tivesse lido meus pensamentos. Belo olhar!

    Fico pensando: sera que a gente tem que entrar no jogo mesmo pra zerar e pra ai ter o poder de muda-lo? Porque afinal, ha pessoas que se identificam com esse jogo. Fico matutando sera que nao ha de se criar um jogo paralelo? Sim, ficaria infinitamente mais difícil de jogar e interagir, mas uma vez funcionando e sabendo-se que se pode haver um novo caminho, talvez os horizontes se abrissem (o tal do mindblowing, palavra em ingles que expressa tao exatamente o que quero dizer) e as pessoas veriam que ha um jogo novo ali bem perto… *to tentando usar sua analogia do jogo). Mas dai que a busca se torna tao individual… duvidas pra gente pensar junto.

  6. Raquel says:

    Carolina, um grande OBRIGADO, você traduziu em palavras o que tento dizer para muita gente.. as vezes até sou chamada de “fingida” mas a meu ver esse é o método que funciona. Você precisa entrar no sistema para conseguir muda-lo.
    Por isso de nada adianta reclamar “do lado de fora”..

    Que o mundo tenha mais pessoas que saiam das suas zonas de conforto para mudar o sistema!!

    Bora jogar! 🙂

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